sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Vítimas

E ontem embaixo dos braços do Cristo pereceram inocentes.
A vítima ou as vítimas estavam inertes no chão, sem saber ainda o que havia acontecido. Apenas estavam lá... Quietas, imóveis, uma sem vida, a outra sem entender o que havia feito.
A vítima que perdeu a vida deixou criança, marido, profissão, e sonhos no lado terreno.
A vítima que sobreviveu, tinha família, mas nunca soube o que era ter sonhos, perspectiva. Nunca provou o lado doce da vida, aprendeu na rua que para o notarem era necessário cheirar cola e pó, casar com uma prostituta roubar e xingar, e mesmo assim foi esquecido.
Esquecido por mim, por você, por nós, que inebriados com a docilidade de nossas vidas, massificamos a violência, colocamos tudo no mesmo pacote, e esquecemos os indivíduos e seus problemas. Mas naquele dia, a baixo dos braços do Cristo, se fez lembrar por todos, por ser quem é, por ser indivíduo fruto de massificação, contudo foi de novo esquecido, colocado na prateleira dos problemas sociais não resolvidos, massificado, virou estatística.

3 comentários:

Anônimo disse...

Vc arrasa!
Bjs.

Shâmtia Ayômide disse...

Muito bom, me lembrou o recado de Eric Voegelin para o ateuzinho-comunista José Saramago:

"Quando o coração é sensível e o espírito contundente, basta lançar um olhar sobre o mundo para ver a miséria da criatura e pressentir as vias da redenção; se são insensíveis e embotados, serão necessárias perturbações maciças para desencadear sensações fracas.
É assim que um príncipe mimado se apercebeu pela primeira vez de um mendigo, de um doente e de um morto ― e tornou-se assim em Buda; em contrapartida, um escritor contemporâneo vive a experiência de montanhas de cadáveres e do horroroso aniquilamento de milhares de indivíduos nas conturbações do pós-guerra na Rússia ― e conclui que o mundo não está em ordem e tira daí uma série de romances muito comedidos.

Um, vê no sofrimento a essência do ser e procura uma libertação no fundamento do mundo; o outro, vê-a como uma situação de infelicidade à qual se pode, e deve, remediar activamente. Tal alma sentir-se-á mais fortemente interpelada pela imperfeição do mundo, enquanto a outra sê-lo-á pelo esplendor da criação.

Um, só vive o além como verdadeiro se ele se apresentar com brilho e com grande barulho, com a violência e o pavor de um poder superior sob a forma de uma pessoa soberana e de uma organização; para o outro, o rosto e os gestos de cada homem são transparentes e deixam transparecer nele a solidão de Deus."
(Eric Voegelin)

Marcos Carvalho disse...

É triste mas os sinais de que é hora de repensar nossas atitudes, modo de vida, prioridades e vida espiritual tem servido apenas para cauterizar ainda mais os olhos e corações diante de tanta injustiça e desigualdade.

Que os olhos da razão e os braços de Cristo não se fechem diante de nossas vidas... pelo menos não antes que seja tarde.

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